Quando você menciona RUP em um ambiente Ágil, alguém revira os olhos. É visto como pesado. Burocrático. Obcecado por documentos e papéis fixos.
Mas isso é um mal-entendido.
O RUP não é um processo em cascata — ele é iterativo, incremental e orientado a riscos. O que o torna pesado é a forma como algumas equipes o aplicam. Este artigo explora como abraçar o núcleo do Ágil aproveitando a estrutura do RUP, especialmente no que diz respeito à modelagem.
Alinhando Mentalidades: Ágil vs RUP
Apesar de parecerem opostos, os princípios do RUP e do Ágil são mais próximos do que se imagina:
Ágil | RUP |
---|---|
Software funcionando acima de documentação | Foco em arquitetura executável |
Indivíduos e interações | Papéis definidos, mas com iteração |
Responder a mudanças | Iterativo e baseado em risco |
Modelagem só quando necessário | Modelos evoluem com as iterações |
Em vez de descartar o RUP, as equipes podem enxugá-lo e aplicá-lo de forma incremental dentro de contextos ágeis.
Modelagem Leve e Frequente
O RUP incentiva a modelagem — especialmente com UML — mas modelar não significa formalidade excessiva. No RUP ágil, modelar é:
- Colaborar: feito em grupo, não isoladamente
- Esclarecer: usado para pensar, não para controlar
- Evoluir: atualizado à medida que o entendimento cresce
Ao invés de um design completo antecipado, usamos a modelagem para reduzir riscos e tomar decisões técnicas com mais segurança.
Adaptando as Fases do RUP aos Sprints
As fases do RUP continuam relevantes, mas podem ser adaptadas ao ritmo ágil:
Fase de Iniciação
Equivale a uma Lean Inception. Em vez de documentação extensa, cria-se um modelo leve de casos de uso para alinhar escopo e atores envolvidos.
Fase de Elaboração
Aqui focamos em spikes arquiteturais. Diagramas de sequência ajudam a visualizar integrações críticas. Padrões de análise são aplicados somente quando necessários. Decisões arquiteturais podem ser registradas como ADRs.
Fase de Construção
O desenvolvimento acontece de forma iterativa. Modelos de classe ou componente são criados conforme necessário. Padrões de projeto são aplicados para manter o design limpo e flexível.
Fase de Transição
Essa fase lida com a entrega e operação. Diagramas de implantação ajudam a visualizar mudanças na infraestrutura. A modelagem aqui foca em confiabilidade e monitoramento.
De Papéis a Responsabilidades
O RUP define papéis fixos. O Ágil favorece generalistas. A solução prática é assumir papéis temporários:
- Devs revezam na facilitação de modelagens
- Product Managers ajudam na evolução dos casos de uso
- Arquitetos contribuem junto ao time, não sozinhos
Isso distribui a responsabilidade pela modelagem e estimula a colaboração.
UML na Medida Certa
O UML continua sendo útil, desde que usado com foco:
- Casos de Uso: para alinhar escopo e metas
- Classe e Sequência: para clareza em estruturas e interações
- Componentes: para divisão e responsabilidades de módulos
Evite diagramas extensos e desatualizados. Use PlantUML, Mermaid ou ferramentas integradas ao repositório.
Considerações Finais
Ser ágil não significa abandonar estrutura — significa fazer com que a estrutura sirva à entrega. O RUP, quando desinchado, oferece uma base sólida para tratar riscos, decisões arquiteturais e escopo — justamente onde o Ágil pode falhar por falta de direção.
O RUP pode sim ser ágil, se você iterar seus modelos, comprimir suas fases e priorizar colaboração sobre prescrição.