Leadership

O objetivo não deveria ser entregar ótimas funcionalidades?

Mude de entrega de funcionalidades para criação de valor—descubra como focar em resultados do usuário ao invés de funcionalidade polida leva a software mais significativo que verdadeiramente serve as necessidades das pessoas

A cada conversa sobre metodologias ágeis, fico mais convencido de que precisamos reforçar não só o discurso da adaptação, mas também a disciplina necessária para sermos realmente eficientes em entregar valor. Agilidade não é apenas sobre fazer menos ou cortar etapas — é, antes de tudo, sobre entender profundamente o que estamos fazendo, por que fazemos e como fazemos bem, para só então decidir o que deixar de lado.

Recentemente, li uma frase do Jeff Patton que dizia: “Looking forward to the time when people use agile development to build great products, not just deliver dumb stuff faster.” Essa reflexão me levou a uma pergunta simples: estamos entregando valor de verdade ou apenas funcionalidades bem embutidas em processos rápidos? A diferença entre esses dois caminhos pode estar na qualidade da nossa compreensão do problema do cliente — e na nossa capacidade de traduzir isso em software útil.

Antes de discutir o que devemos eliminar, automatizar ou flexibilizar, precisamos desenvolver competência real. Aprender a escrever bons testes antes de dizer que TDD não funciona. Praticar refatoração até que ela se torne fluida, antes de afirmar que dá muito trabalho. Adotar integração contínua de forma consistente, com time comprometido, antes de descartá-la como burocrática. O caminho para a agilidade passa pelo domínio da técnica, que nos dá autonomia para decidir com base em impacto — não em apego ou preguiça.

Kent Beck, criador do XP, escreveu que “XP é uma disciplina de desenvolvimento de software”. E disciplina pressupõe consistência e responsabilidade. Você só pode abrir mão de algo quando já entendeu bem como funciona e quais efeitos traz. E isso vale para práticas, processos, cerimônias, ferramentas. Aprender antes de adaptar. Praticar antes de criticar.

Scrum, Kanban, XP, Lean — todos esses métodos carregam décadas de lições, dores, evoluções. Cada um propõe uma abordagem, mas todos compartilham a ideia de ajustar o processo com base em feedback, entregar valor continuamente e evoluir com o aprendizado. Quando adotamos práticas com convicção e transparência, conseguimos construir um ambiente de confiança onde erros são aprendizados e melhorias acontecem de verdade.

Se quisermos que nossos clientes confiem em nossas entregas, precisamos demonstrar maturidade técnica e empatia com o negócio. É possível fazer software com leveza, sem abrir mão da qualidade. É possível ser produtivo sem cair na pressa. E é possível, sim, desafiar frameworks, desde que saibamos o que estamos fazendo — e por quê.

A entrega de valor começa com perguntas boas. O que estamos tentando resolver? Como saberemos que deu certo? O que aprendemos com o que entregamos ontem? A agilidade floresce quando deixamos de buscar atalhos e passamos a construir caminhos consistentes.

A verdadeira agilidade não está em fazer as coisas mais rápido, mas em fazer as coisas certas com mais clareza e propósito.