Leadership

Já tive um gerente que comia velocidade no café

Escape da armadilha da velocidade através de estimativa significativa—descubra por que planning poker cria conversas, não previsões, e como equipes saudáveis medem capacidade protegendo ritmo sustentável

Trabalhar em equipe exige mais do que alinhamento técnico. Exige clareza, confiança, e principalmente respeito ao contexto em que estamos inseridos. Estimar, planejar e entregar não são apenas práticas de processo — são formas de comunicação, alinhamento e aprendizado. E a velocidade do time, aquela famosa métrica que muitos líderes adoram acompanhar, só faz sentido se entendermos o que realmente estamos medindo.

Nem todo gráfico é progresso

Durante minha trajetória, vi gestores obcecados por gráficos de burndown e curvas de produtividade que pareciam fazer mais sentido na planilha do que na entrega real. Alguns investiam horas tentando cruzar pontos de função, linhas de código e outras métricas mágicas, esperando que o resultado representasse alguma previsibilidade. Outros usavam a velocidade como ferramenta de pressão. Em comum, o erro de tratar a métrica como fim, e não como meio.

Scrum introduz a velocidade como uma forma simples de refletir a capacidade do time — quanto valor conseguimos entregar por iteração com qualidade. Mas essa métrica só é útil quando usada com honestidade. Ela não existe para agradar gerente, nem para inflar apresentações. Ela serve para ajudar o time a tomar decisões realistas, com base em sua própria história e complexidade dos desafios enfrentados.

Planejar é mais que prever

O famoso planning poker não é sobre adivinhar quanto tempo uma tarefa leva. É sobre promover conversas. O valor real da estimativa está na troca de percepções, nas dúvidas que surgem, nos riscos que são descobertos. E é aí que pessoas podem fazer a diferença.

Como membro do time, contribuir para estimativas vai além de apontar números. É compartilhar contexto, levantar incertezas, expor restrições. Se você sabe que algo tem dependência externa, diga. Se já tentou algo parecido antes, compartilhe. Se algo parece simples demais para ser verdade, questione. Quanto mais claro for o entendimento coletivo da complexidade, mais sustentável será a velocidade alcançada.

Crescimento não é sobre acelerar sempre

Velocidade saudável é consequência de times maduros, com domínio técnico e psicológico. Times que sabem dizer “não sabemos ainda”, que protegem sua cadência e que priorizam aprendizado. Pessoas podem influenciar essa cultura valorizando entregas pequenas, pedindo feedback constante, e evitando “encaixes” que parecem inocentes mas comprometem a estabilidade do todo.

Também é importante lembrar que não somos máquinas. Uma sprint com imprevistos, refatorações ou investigações não é um fracasso — é parte do processo de evolução. Manter a velocidade exige consciência coletiva. O time inteiro precisa saber por que algo levou mais tempo. E esse aprendizado só acontece com segurança psicológica e transparência.

Entregar é mais do que completar

Muitos times se perdem tentando empilhar tarefas só para ver os cards indo para “done”. Mas entregar valor é diferente de finalizar atividade. Valor exige clareza de impacto. E isso começa com boas estimativas, comunicação frequente, e compreensão real do que está sendo construído. Como reportee, pergunte: “Essa história está clara pra mim?” ou “Se entregarmos isso, quem será impactado?”.

Quando essas perguntas viram parte do processo, a velocidade deixa de ser um número solto e passa a representar evolução real. Isso não só fortalece o time como também empodera o gestor — que deixa de “comer velocidade no café” e passa a ter um reflexo verdadeiro do que seu time pode alcançar.


Publicado para lembrar que velocidade é reflexo, não objetivo. E todo time pode aprender a tocá-la no ritmo certo.