Série: Fundamentos de Engenharia de Software | Parte 8 de 19 > Ministrada na Universidade Potiguar (UnP) em 2010
Na oitava aula do curso de Engenharia de Software na Universidade Potiguar (UnP), exploramos a Programação Extrema (XP) — uma abordagem que desafia a sabedoria convencional sobre qualidade de software, colaboração em equipe e ritmo sustentável de desenvolvimento.
Scrum flácido, qualidade em risco
Começamos a aula com um diagnóstico corajoso: mesmo conhecendo métodos como Scrum, muitos times continuam entregando com baixa qualidade. Falta prática técnica. Débito técnico se acumula. Testes são negligenciados. O XP nasce como resposta a esse colapso silencioso — não com mais reuniões, mas com práticas concretas.
XP não é uma metodologia adicional. É uma coleção de atitudes que combate a superficialidade comum da agilidade mal praticada. Defendemos que, antes de falar em velocidade, é preciso falar em responsabilidade.
Episódios que refletem a vida real
Utilizamos uma sequência de “Episódios XP” com imagens e simulações para mostrar como a colaboração e o feedback acontecem na prática. Um desenvolvedor que pede ajuda e é prontamente atendido. Um teste que falha e gera uma conversa. Uma classe que precisa ser refatorada antes de crescer. Tudo em ciclos curtos, com validação constante.
Propus que os alunos encenassem esses episódios em duplas. Eles praticaram o “pair programming improvisado” com papel e caneta — um atuando como desenvolvedor e outro como revisor. A dinâmica revelou como boas práticas são mais comportamentais do que técnicas.
Equipes e instrutores podem aplicar essa atividade em workshops ou treinamentos para treinar empatia técnica, escuta ativa e valorização de testes como primeiro passo, não último.
Economia e valor real de software
Dedicamos uma parte da aula para discutir o valor econômico do software entregue com qualidade. Mostrei como o XP ajuda a reduzir desperdício e aumentar a adaptabilidade do produto. Discutimos opções de retorno mesmo em cenários incertos: pivotar, abandonar, crescer ou refatorar.
XP reduz o risco ao valorizar feedback contínuo e entregas pequenas. Cada ciclo é uma chance de validar. Cada funcionalidade não usada é um custo evitado. Ensinamos aos alunos que “não construir” é, muitas vezes, a melhor decisão de engenharia.
Valores que sustentam tudo
XP é sustentado por quatro valores: Comunicação, Simplicidade, Feedback e Coragem, com Respeito ganhando força como valor adicional.
Refletimos juntos sobre cada um. Comunicação não é só ferramenta, mas disponibilidade. Simplicidade exige abandonar o desejo de prever tudo. Feedback exige escutar além da superfície. Coragem não é bravura individual — é o compromisso coletivo com o bom trabalho. E respeito é o cimento que mantém tudo de pé.
Propus que os alunos identificassem onde cada valor aparecia em suas experiências profissionais ou acadêmicas. A discussão foi rica e pessoal. Para instrutores, essa atividade funciona bem como debate em roda, permitindo escuta profunda e honestidade.
Publicado como parte do diário de aula da disciplina de Engenharia de Software. Hoje aprendemos que qualidade exige coragem — e agilidade sem excelência técnica é só prazo disfarçado.
Navegação da Série
- Introdução: Parte 1 - Por que Engenharia de Software?
- Anterior: Parte 7 - Ciclo Scrum
- Atual: Parte 8 - XP Qualidade & Coragem
- Próxima: Parte 9 - XP Princípios & Práticas
- Série completa: Por que Engenharia de Software? | Domando a Complexidade | Modelo Cascata | Modelos Evolucionários | Mentalidade Ágil | Scrum Produtividade | Ciclo Scrum | XP Qualidade & Coragem | XP Princípios & Práticas | XP na Prática | Domain-Driven Design