Série: Fundamentos de Engenharia de Software | Parte 9 de 19 > Ministrada na Universidade Potiguar (UnP) em 2010
Na nona aula da disciplina de Engenharia de Software da Universidade Potiguar (UnP), completamos nossa exploração da Programação Extrema mergulhando em suas práticas concretas. Não se tratava apenas de memorizar técnicas, mas de entender como as práticas XP trabalham juntas para criar um ambiente de desenvolvimento sustentável.
De Princípios a Propósito
Começamos pela base: os princípios. Rapidez no feedback, simplicidade assumida, mudanças pequenas, aceitação da mudança — todos entraram em pauta. Questionamos a ideia de que “grandes mudanças são sinal de progresso”. Em vez disso, propusemos: como evoluir software em passos seguros e consistentes sem quebrar tudo?
Os alunos refletiram sobre uma citação de Kent Beck: “A melhor estratégia preserva o maior número de opções enquanto resolve o problema mais urgente.” A partir disso, fizemos uma atividade escrita em que identificaram “a última grande mudança” em algum projeto vivido — e como ela poderia ter sido dividida em incrementos menores.
Esse exercício pode ser aplicado em qualquer time técnico ou sala de aula. O resultado? Mais consciência sobre quando estamos superprojetando sob incerteza.
Além da Prática: Uma Cultura de Qualidade
Exploramos então outros princípios do XP: adaptação local, comunicação honesta, investimento inicial mínimo e métricas que reflitam valor real. A turma respondeu com exemplos de estágios anteriores onde documentação extensa ou métricas frágeis geraram retrabalho e frustração.
Ressaltamos que XP não é uma lista de tarefas. É uma cultura. Ninguém adota XP só fazendo reuniões. Só se vive XP quando o time valoriza simplicidade, feedback e responsabilidade compartilhada.
Práticas que Constroem Confiança
Avançamos para as práticas: jogo de planejamento, integração contínua, refatoração, programação em par, design simples e semana de trabalho com 40 horas. Cada uma foi apresentada com exemplos e discussões visuais. Explicamos como o planejamento divide responsabilidades entre negócio e desenvolvimento, e como o código coletivo fortalece aprendizado.
Uma das atividades mais fortes foi o jogo de estimativas. Em duplas, os alunos receberam histórias fictícias e tiveram que estimar tamanho, risco e esforço. O debate após a dinâmica valeu mais que os números: muitos superestimaram velocidade e subestimaram incerteza.
Essa dinâmica funciona muito bem em times reais para abrir discussões sobre escopo, risco e confiança nas entregas.
Refatorar para Crescer
Dedicamos um bom tempo para falar sobre refatoração. Lancei uma pergunta: “Quando foi a última vez que você refatorou antes de adicionar algo novo, e não depois?” Isso provocou debates honestos sobre prazos, pressão e como pequenas melhorias poderiam evitar grandes dores.
Mostramos que refatorar é preparação, não correção, e propusemos uma atividade de quadro em que cada aluno listou pontos de seus projetos atuais onde uma refatoração abriria novas possibilidades.
A Força dos Ciclos Sobrepostos
Fechamos com uma síntese: como as práticas do XP se reforçam. Se o planejamento falha, os testes mostram o risco. Se o pareamento não ocorre, a propriedade coletiva cobre. Se o design é simples, refatorar vira hábito. Essa interdependência é o que torna o XP um sistema resiliente.
A turma entendeu que XP não é difícil de explicar — é difícil de manter. E que o segredo está na cultura, no compromisso e na coragem técnica.
Publicado como parte do diário de aula da disciplina de Engenharia de Software. Hoje aprendemos que os princípios XP não são apenas diretrizes de desenvolvimento — são um blueprint para construir equipes de software que podem sustentar excelência ao longo do tempo.
O valor do XP não está em adotar todas as práticas cegamente, mas em entender os princípios por trás delas e adaptá-las com cuidado ao seu contexto, equipe e objetivos.
É assim que construímos software que funciona — e equipes que prosperam.
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