Nesta segunda-feira, 18 de abril, participei com entusiasmo de mais uma edição do Stefanini Open Talks, continuando nossa tradição de brown bags que vem crescendo a cada mês. Desta vez, a apresentação foi sobre um conceito que venho amadurecendo há algum tempo: a ideia de unir foco, ciclos de produtividade e música.
A origem vem de um desejo antigo de tornar meus ciclos de concentração ainda mais imersivos. Desde que comecei a aplicar o Pomodoro — sobre o qual falei na primeira edição do Open Talks — percebi que havia algo especial na forma como certos estímulos auditivos me ajudavam a manter o foco, como se fossem um “modo turbo” ativado por notas musicais específicas.
Durante minhas sessões de foco, comecei a montar playlists temporizadas com 25 minutos de duração, seguidos de faixas mais tranquilas para os 5 minutos de descanso. Achei que estava inventando algo. Até que, durante o Agile Day 2010, ouvi o Daniel Wildt comentar sobre o conceito de SONGDORO — e me dei conta de que ele já tinha nomeado, documentado e estruturado exatamente isso que eu buscava.
Hoje, ao apresentar sobre o tema, compartilhei com meus colegas o quanto a descoberta do Songdoro transformou minha rotina. Mais do que usar música aleatória para trabalhar, passei a tratar as playlists como gatilhos de estado mental. Elas se tornaram delimitadores claros de início e fim de um ciclo. Quando a música começa, entro em ação. Quando ela termina, paro. Simples assim.
Relatei como fui identificando quais músicas funcionavam melhor para mim. Descobri que trilhas de videogame e cinema instrumental, especialmente faixas sem letra, geravam menos distrações e ajudavam minha mente a se manter engajada na tarefa. Para o descanso, por outro lado, opto por músicas lo-fi, jazz ou até sons da natureza.
Mostrei exemplos de playlists e inclusive compartilhei trechos ao vivo para demonstrar a diferença de atmosfera entre execução e descanso. Expliquei como uso o Spotify para cronometrar os ciclos — uma música de 25 minutos inicia o Pomodoro e uma faixa de 5 minutos sinaliza o intervalo.
As perguntas vieram rápido: “Mas qualquer música serve?”, “E se eu enjoar da mesma playlist?”, “Funciona com time?”. Aproveitei para abrir o microfone para o debate e muitos relataram que também têm suas power songs. Aquela faixa que, quando toca, já transforma o ambiente mental. E aí percebemos: todos já usamos o Songdoro, de alguma forma.
O que fizemos na apresentação foi apenas dar nome, estrutura e intenção a algo que já nos ajuda há tempos. Comentei sobre como esse tipo de prática aumenta a autoconsciência e o domínio sobre sua própria produtividade. Saber quando você é mais criativo, quando tende a dispersar e quais músicas ativam certos estados mentais é um diferencial poderoso.
Falei ainda sobre como o Songdoro se encaixa perfeitamente em contextos remotos. Trabalhando em casa, com ruído ambiente, crianças, vizinhos ou tarefas domésticas por perto, construir ambientes sonoros planejados pode ser a diferença entre fluir e travar.
Também compartilhei um erro comum que cometi no início: usar músicas favoritas com letra para tentar me concentrar. Resultado: me peguei cantando ou prestando atenção na letra, perdendo completamente o foco da tarefa. Aprendi que música funcional não é entretenimento — é ferramenta.
Comentei sobre a possibilidade de usar Songdoro em equipe, sincronizando playlists via plataformas colaborativas, criando sessões de pair programming com trilhas específicas, ou até usando músicas como indicativo de status: se estou com a playlist de execução ligada, estou focado; se estou na de descanso, posso conversar.
Mostrei inclusive um quadro de visualização que montei para meu mural Kanban pessoal, com indicadores visuais de qual ciclo estou usando: Pomodoro tradicional, Songdoro com trilha ativa, Songdoro com foco criativo, ou sessão de revisão.
A ideia do Songdoro não é substituir o Pomodoro. É potencializá-lo. É fazer com que o tempo de foco tenha um aliado sensorial. Uma âncora emocional. E como eu disse na apresentação, “nada faz minha mente entrar no modo trabalho como a primeira batida daquela trilha do Mega Man X”.
Fechamos a apresentação com uma playlist colaborativa criada por todos os presentes. Cada um contribuiu com uma música que usa para focar. Saímos não só com novas ideias, mas com um novo acervo auditivo.
Agradeço ao Daniel Wildt pela inspiração e referência, à Stefanini por continuar abrindo espaço para inovação interna, e ao time DELL pela escuta ativa e comentários construtivos.
SONGDORO não é uma regra. É uma estratégia. Um pequeno hack que, quando bem aplicado, transforma fone de ouvido em catalisador de entrega.
Se você nunca tentou, monte sua primeira playlist e experimente amanhã. E se já usa, compartilhe com seu time. Talvez o próximo ciclo produtivo comece com uma batida que inspira mais alguém.
Que venham os próximos encontros — com mais som, foco e colaboração.