Rumo ao Desconhecido
Em julho de 2018, subi ao palco do BA Brazil em São Paulo com um desafio simples, mas poderoso: como podemos realmente aprender durante o desenvolvimento de produto?
Com frequência, os times escrevem user stories, entregam funcionalidades e seguem adiante—sem validar o valor entregue, o problema resolvido ou se o comportamento do usuário foi o que esperávamos. Nessa palestra, apresentei uma estrutura leve para aprendizado contínuo: combinar histórias, hipóteses e métricas para tomar decisões em ambientes de incerteza.
Histórias São Só o Começo
Todos conhecem o formato clássico de user story:
Como [persona], quero [ação], para que [valor].
Mas mesmo histórias bem escritas ainda são suposições. Uma história como:
Como usuária, quero salvar notícias para ler depois, para poder revisitá-las no futuro.
…não é garantia de comportamento. É um palpite. E é aí que entram as hipóteses.
Hipóteses: Do Palpite à Experimentação Sistêmica
Cada história pode ser desdobrada em uma ou mais hipóteses, mapeando o comportamento esperado do usuário passo a passo:
- O usuário acessa o portal de notícias.
- Ele lê e gosta de uma matéria.
- Ele salva a notícia para depois.
- Ele retorna para lê-la futuramente.
Transformamos o “desejo” em um funil estruturado, da interação inicial até o resultado esperado. E, de forma crítica, atribuimos métricas a cada etapa.
Isso nos permite sair da intuição e entrar no aprendizado.
Facilitando Hipóteses: Como os Times Podem Co-Criar
Usamos dinâmicas de facilitação em par, inspiradas pelo Managing Dojo:
- Brainstorm em duplas, com rodízio de papéis (piloto/copiloto)
- Todos participam
- Ênfase na observação, não apenas na solução
Esse formato ajudou a quebrar silos, esclarecer suposições e garantir que cada voz fosse ouvida. Com o tempo, se tornou base para nossos rituais de descoberta em time.
Kanban para Aprender
Assim como usamos Kanban para acompanhar entregas, criamos um quadro para hipóteses:
A FAZER → FAZENDO → MEDINDO → APRENDENDO
Cada item possui:
- Uma métrica a ser observada
- Um ciclo de feedback
- Uma estratégia de lançamento (estilo MVP)
Com isso, nossas iterações passaram a ter um duplo propósito: entregar valor e validar aprendizado.
Medindo o que Importa
Exemplos de métricas que usamos:
- % de usuários que salvaram uma notícia
- Taxa de retorno à página de notícias salvas
- Tempo mediano entre salvar e reler
- Quedas ao longo do funil
Nem toda métrica levou a uma ação. Mas toda métrica gerou uma conversa.
Paramos de construir apenas para dizer que entregamos. Passamos a construir entendimento.
O Lado Emocional do Produto
Produtos não são só funcionais. Nossos MVPs devem buscar também:
- Funcionalidade
- Confiabilidade
- Usabilidade
- Design emocional
Entregar rápido não é entregar feio. O objetivo é testar valor, não frustrar usuários.
Mensagem Final
“Não descarte suas ideias—ainda.”
Tudo é hipótese até que se prove. Toda história é uma aposta. O que diferencia os grandes times de produto não é a visão. É a velocidade e efetividade com que aprendem.
Vamos parar de assumir. Vamos começar a experimentar. Vamos construir produtos que evoluem com nosso entendimento.
Apresentado no BA Brazil 2018 – São Paulo. Me siga: @helmedeiros