As Luzes do Escritório se Acenderam
No começo do ano, o escritório foi reaberto.
Sem anúncio oficial. Só um movimento gradual. Um por um, colegas começaram a aparecer fisicamente. Primeiro por algumas horas, depois por dias inteiros. Alguns sentiam falta das conversas de corredor. Outros precisavam sair de casa. Eu entendi os dois lados.
E mesmo assim, algo ficou claro: a gente não ia voltar ao que era antes.
Não por sermos contra encontros presenciais. Mas porque o sistema que havíamos construído—nossos hábitos, rituais e ferramentas remote-first—continuava fazendo mais sentido. Para nós, para o nosso trabalho, e para o nosso time.
A Armadilha do Híbrido (e Como Percebemos Rápido)
Não demorou para os problemas aparecerem.
Num dia, algumas pessoas se reuniram numa sala e tomaram uma decisão depois do standup. Atualizaram o board, mas esqueceram de alinhar com quem estava remoto.
Em outro momento, percebemos que algumas facilitações estavam voltando ao “modo sala”—com as vozes presenciais dominando e as remotas ficando para o final, ou sendo ignoradas.
Nada disso foi intencional. E talvez por isso foi mais difícil de perceber.
O problema não era voltar ao escritório. O problema era que estávamos desaprendendo o que nos fazia funcionar bem.
O Que Decidimos
Então a gente parou.
Conversamos abertamente sobre o que estava acontecendo. Compartilhamos feedbacks. E juntos tomamos uma decisão: vamos continuar remote-first.
Não significa remote-only. As pessoas podiam se encontrar. Mas os sistemas, ferramentas e decisões seriam sempre pensados com foco no distribuído.
Na prática, isso significou:
- Todas as reuniões continuaram digitais. Cada um no seu computador, mesmo que estivesse na mesma sala.
- Documentação continuou sendo central. Se não estava no Slack ou no Confluence, era como se não tivesse acontecido.
- Facilitações foram repensadas para evitar domínio—com docs compartilhados, sinais, e inputs assíncronos antes da conversa.
- Async virou prioridade. Nenhuma cerimônia mudava só porque tinha gente reunida presencialmente.
- Ir ao escritório virou escolha pessoal. Não era regra. Era uma ferramenta—para foco, conexão ou cocriação.
Por Que Funcionou
A resposta, acho, é confiança.
A essa altura, a gente já tinha uma cultura onde o feedback fluía sem culpa. Então, quando algo saía do trilho, alguém apontava. E ao invés de recuar, a gente ajustava.
Não precisávamos de uma política escrita. Bastava escutar. Perguntar “O que está funcionando? O que não está?” Tínhamos colegas na Índia, outros que ainda não queriam voltar. Então desenhar para a flexibilidade não era luxo—era necessidade.
Uma Reflexão no Meio do Caminho
Escrevo isso agora, no meio dessa transição, porque não acho que existe uma resposta única.
Mas acredito que existe uma errada: Deixar a cultura remote-first se perder só porque o escritório reabriu.
Os rituais que criamos—comunicação clara, planejamento assíncrono, autonomia compartilhada—não eram soluções temporárias. Eram boas ideias. E continuam sendo.
O Que Vem Depois
Nossa decisão de continuar com o modelo remote-first trouxe liberdade para as pessoas. Mas também trouxe outra coisa: a confiança de receber novos colegas, onde quer que estivessem.
Logo, nosso time iria crescer—em diferentes cidades, fusos e países.
No próximo post, vou contar como isso foi possível. Como confiança, flexibilidade e rituais compartilhados nos ajudaram a integrar e conectar, sem precisar que todos estivessem na mesma sala—ou sequer no mesmo continente.