Série: Transição de Kanban para Scrum | Parte 1 de 4 | Documentando a evolução estruturada do nosso time de Kanban para Scrum
Introdução
No final de 2022, nossa equipe utilizava um sistema bem estruturado de Kanban há mais de um ano. Tínhamos planejamento semanal, limites de WIP definidos, análise contínua de fluxo acumulado e um processo bem gerenciado de entrega puxada. Isso funcionava — até que deixou de funcionar.
Este post inicia uma série de quatro partes sobre nossa transição de Kanban para Scrum. É uma reflexão sobre o que não estava mais funcionando, por que decidimos mudar e como conduzimos essa transformação de forma estruturada, participativa e voltada para o aprendizado do time.
O Contexto da Pandemia e o “Keep the Lights On”
Nossa abordagem em Kanban surgiu durante a pandemia, quando fazer planos de longo prazo parecia quase inútil. Tudo era incerto — demanda de mercado, escopo das features, até mesmo a disponibilidade da equipe. Então focamos no fluxo, priorizando decisões no momento e reatividade. Isso nos ajudou a navegar a incerteza.
Com a empresa entrando em uma fase de cautela financeira — que chamamos internamente de “keep the lights on” — reduzimos experimentações e passamos a priorizar estabilidade e eficiência entre times. Isso ampliou nossas dependências e evidenciou lacunas de coordenação que o Kanban, sozinho, não conseguia resolver bem.
Os Sinais de Ineficiência
Nas nossas retrospectivas, começaram a aparecer post-its como:
- “Estamos puxando histórias sem escopo claro — o refinamento está acontecendo tarde demais.”
- “Estamos em muitas frentes e nada finaliza.”
- “É difícil alinhar com outros times — as reuniões são sempre reativas.”
- “Não está claro quem está responsável por cada entrega.”
- “Não sabemos de fato o que está PRONTO — nosso DoD é informal.”
Esses não são sinais de pessoas falhando. São sintomas de mismatch de processo. O Kanban nos deu flexibilidade, mas faltava ritmo, rituais e acordos que sustentassem aprendizagem coletiva e ownership.
O Que o Kanban Nos Deu (e Onde Ele Ficou Devendo)
O Kanban nos deu uma base sólida:
- Uma cultura forte de visualizar o trabalho.
- Pensamento orientado a fluxo e redução de context switching.
- Conforto com comunicação assíncrona no Slack.
- Ritual de tech debt com tech wall e matriz de esforço/impacto.
- Brainstormings e Lean Inception colaborativos no FigJam.
- Planejamento com base em OKRs e alinhamento quinzenal.
- Um bom ritmo de retrospectivas e health radar mensal.
Mas nos faltava cadência. Faltava checkpoint obrigatório antes de começar o trabalho. Faltava linguagem compartilhada sobre como entregamos — especialmente quando a prioridade vinha de fora.
O Impulso para Scrum
O Scrum oferecia o que estava nos faltando:
- Planejamento como cerimônia, não só um doc assíncrono.
- Sprint goals para dar foco ao time.
- Definition of Ready e Definition of Done para formalizar entregas.
- Sprint reviews para refletir, celebrar e alinhar stakeholders.
- Um modelo de melhoria contínua por retros fixas.
- Clareza sobre quem facilita, quem lidera e o papel de cada um.
Não eram só rituais. Eram espaços. Espaços para criar clareza, distribuir liderança e fazer pausas para aprender junto.
Um Chamado à Mudança
Decidimos mudar. Não por frustração, mas por maturidade. Não abandonamos o Kanban — evoluímos para uma estrutura que nos permitiria colaborar melhor, lidar com dependências e crescer em autonomia com mais alinhamento.
Os próximos passos ficaram claros: definir metas, alinhar métricas, criar uma visão compartilhada sobre Scrum e desenvolver uns aos outros para novos papéis.
E é exatamente sobre isso que trata a Parte 2.
# Reflexão de retro
echo "Nosso processo atual está ajudando ou bloqueando nossos objetivos?" >> retro_outubro2022.txt
Próximo na série: Parte 2 - Alinhando Metas, Métricas e Entendimento Compartilhado
Série Transição de Kanban para Scrum:
- Parte 1: Reconhecendo a Necessidade de Mudança (Este post)
- Parte 2: Alinhando Metas, Métricas e Entendimento Compartilhado (3 nov, 2022)
- Parte 3: Implementação e Primeiros Desafios (10 nov, 2022)
- Parte 4: Lições Aprendidas e Melhoria Contínua (17 nov, 2022)