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Agile Brazil 2010 – Parte 6: Ponha as Cartas na Parede com Paulo Caroli

Transforme seu quadro de tarefas de ferramenta de rastreamento em máquina de aprendizado—descubra como throughput, limites WIP e design visual transformam cartões simples em poderosos instrumentos de otimização de fluxo

Série: Agile Brazil 2010 | Parte 6 de 6 > Cobertura completa da primeira conferência nacional de métodos ágeis do Brasil

Revendo minhas anotações no fim do segundo dia do Agile Brazil 2010, percebo como a simplicidade de um quadro pode esconder uma complexidade incrível. A palestra do Paulo Caroli, “Ponha as Cartas na Parede: O uso eficaz do Agile Card Wall”, foi uma aula prática de visualização de fluxo de trabalho — um tema que eu já considerava dominado. E ainda assim, saí com a sensação de ter aprendido dez coisas novas.

Muito mais que Post-its

Até hoje, minha experiência com card walls era funcional. A gente usava quadros físicos ou digitais com colunas típicas: “To Do”, “In Progress”, “Done”. E isso funcionava bem… ou eu achava que funcionava. Caroli mostrou como o quadro pode ser instrumento de aprendizado, não apenas de acompanhamento.

Ele começou com uma provocação visual — o gráfico de funcionalidade versus tempo, com conceitos como throughput, latência, largura de banda. Cada termo ganhou contexto. Throughput? Quanto entregamos por tempo. Latência? Quanto tempo leva uma funcionalidade até ser entregue. Bandwidth? Quantos itens conseguimos trabalhar simultaneamente sem afogar a equipe.

Diagrama de funcionalidade, largura de banda, latência e throughput

A imagem me pegou em cheio. Nunca havia pensado no card wall como ferramenta para refletir sobre largura de banda. Quantas tarefas conseguimos empurrar sem comprometer o fluxo? Com esse gráfico, tudo começou a se encaixar.

Limites Visuais: Muito Além do WIP

Em seguida, Caroli abordou limites explícitos. Mostrou dois quadros aparentemente iguais, mas com sutis — e poderosas — diferenças. O primeiro trazia colunas com limites definidos de WIP (Work In Progress). O segundo mostrava o que acontece quando ignoramos esses limites.

Exemplo de board com WIP controlado Exemplo de board com WIP estourado

Percebi o caos escondido por trás de “só mais uma tarefa”. Quando o time inteiro está sobrecarregado, a fluidez se perde. Essa visão explícita facilita decisões: parar, ajudar, reorganizar.

Caroli reforçou a ideia de que um bom card wall é autoexplicativo. Mesmo um visitante externo deveria entender o estado atual do time com apenas um olhar. E isso não vem do software — vem do design do quadro.

Camadas de Informação

Outra sacada poderosa foi a forma como Caroli desenhou um único cartão de tarefa. Ele adicionou informações de forma visual e progressiva: nome do responsável, prioridade, impedimento, status, avatar do desenvolvedor, até pequenas anotações.

Cartão com detalhes visuais

A composição do cartão virou uma ferramenta de comunicação visual poderosa. O círculo indicava esforço. A tarja amarela marcava “on hold”. A foto, para humanizar e dar clareza. O resultado: menos reuniões, menos dúvidas, menos fricção.

10 Conceitos, 10 Ações

Aqui estão 10 conceitos que capturei da apresentação, todos com potencial para virar ação prática:

  1. Visualizar é alinhar – O quadro alinha percepção e realidade.
  2. Throughput ≠ tarefas iniciadas – Só conta o que foi entregue.
  3. Limites de WIP são barreiras de proteção – Eles evitam afogamento e distração.
  4. Latência importa – Às vezes entregamos pouco porque temos muita coisa parada.
  5. Bandwidth ≠ velocidade – Fazer muito ao mesmo tempo não significa fazer rápido.
  6. Cartões contam histórias – Cada cartão deve dizer algo além do título.
  7. Explicite bloqueios – Impedimentos devem ser visíveis.
  8. Padronize sem engessar – O design do cartão ajuda, mas deve ser flexível.
  9. O quadro muda com o time – Ele deve evoluir com as práticas.
  10. Compartilhe visibilidade, compartilhe responsabilidade – O card wall pertence ao time, não ao PO ou ao Scrum Master.

Fechando o Dia com Clareza

No final, voltei ao meu caderno, olhei pro desenho do quadro que usamos no time, e já pensei em cinco melhorias possíveis. A palestra de Caroli me fez perceber o que o quadro não dizia — e o quanto isso atrasa decisões, colaboração e entrega.

Obrigado, Paulo Caroli, por mostrar que colocar as cartas na parede é mais do que transparência. É clareza, é fluidez, é melhoria contínua com cor, contexto e cuidado.


Navegação da Série Agile Brazil 2010:

Essa série documenta minha participação no Agile Brazil 2010, a primeira conferência nacional de métodos ágeis do Brasil. Do XP hands-on aos card walls eficazes, foi um evento transformador que moldou minha visão sobre práticas ágeis e gestão visual.