Série: Agile Brazil 2010 | Parte 5 de 6 > Cobertura completa da primeira conferência nacional de métodos ágeis do Brasil
Grande apresentação conduzida pelo Francisco Trindade, com o título “Coaching de Guerrilha”. Eu não esperava sair daquela sala com tantas reflexões sobre influência, liderança e mudança — tudo isso sem precisar de cargo formal.
Mudar sem Autoridade
Logo no início, a primeira pancada: você não precisa de autoridade formal para começar uma mudança. Francisco nos mostrou, com histórias e exemplos, que agentes de mudança surgem de forma discreta, persistente — muitas vezes sem pedir permissão. Isso foi poderoso, especialmente para quem, como eu, já se sentiu à margem das decisões, com vontade de contribuir.
Ele apresentou o coaching de guerrilha não como rebeldia, mas como um ato de apoio intencional e estratégico. A palavra “guerrilha” evoca batalhas improvisadas, táticas escondidas. E sim, esse espírito estava presente — mas com propósito. Aprendemos que os melhores coaches não chegam com megafone e dashboards, mas com escuta ativa e empatia.
Observe Antes de Agir
Francisco foi enfático: “Não coache o que você não observou.” Isso me atingiu em cheio. Já vi muitas iniciativas bem-intencionadas falharem porque alguém quis aplicar uma solução sem entender o sistema. Fizemos exercícios de observação silenciosa, simulando um time em ação. O que eles estão tentando alcançar? O que parece travar o fluxo? Que dinâmicas estão no ar?
Esse exercício sozinho já valeria o dia. Coaching de guerrilha não é sobre pressa — é sobre paciência. Você primeiro observa, depois age.
Conversas Táticas
Fizemos uma dinâmica em duplas, encenando situações espontâneas de coaching: bate-papos no corredor, na fila do café, em pausas rápidas. A ideia não era criar novas cerimônias, mas aproveitar espaços informais para gerar conexão e reflexão.
Francisco compartilhou uma técnica importante: sempre leve perguntas. Não “Qual o problema?”, mas “O que te frustrou hoje?”. Não “Como vamos resolver?”, mas “Qual a menor experiência que podemos tentar amanhã?”. Essas perguntas abriram portas na sala — de repente, as pessoas estavam contando o que realmente sentiam.
Kaizen e Kaikaku
Ele também apresentou dois termos japoneses: Kaizen e Kaikaku. Kaizen representa melhoria contínua e incremental. Kaikaku, por outro lado, significa mudança radical e disruptiva. A maioria de nós tende a um ou outro. Francisco nos provocou a pensar quando cada abordagem é apropriada.
Ele contou sobre um time que só fazia Kaizen — pequenos ajustes, mas nunca enfrentava as raízes dos problemas. Estagnaram. Outro time vivia em Kaikaku — mudavam tanto que nunca estabilizavam. Bons agentes de mudança sabem quando empurrar, e quando escutar. Não se trata de velocidade, mas de adaptação.
De Coach a Influenciador Cultural
A sessão terminou com uma frase que não vou esquecer: “Cultura é o que as pessoas fazem quando ninguém está olhando.” Francisco nos perguntou: que hábitos estamos reforçando com o que toleramos, celebramos ou ignoramos?
Não era só sobre coaching. Era sobre consciência sistêmica. Você não muda uma cultura se não a compreende. E não vai compreendê-la se não desacelerar e observar como ela respira.
A reflexão final foi forte: “Não tente ser o herói. Seja o guia. O jardineiro. O anfitrião.” A sala ficou em silêncio. Porque todo mundo ali, em algum momento, já tentou ser o herói — e falhou.
Influência Silenciosa, Impacto Intencional
Saí da sala revendo tudo o que achava que sabia sobre gerar mudanças. Eu não precisava esperar por um cargo. Não precisava instalar um framework. Eu precisava escutar melhor, observar com mais atenção, fazer perguntas melhores e me comprometer com pequenas intervenções consistentes.
Essa palestra não teve firulas. Os slides eram simples. Mas o conteúdo? Profundo. Prático. Transformador. Obrigado Francisco Trindade por mostrar que a influência silenciosa não é fraqueza — é sabedoria.
E obrigado, Agile Brazil, por dar espaço para sessões assim. Que dia!
Navegação da Série Agile Brazil 2010:
- Parte 1: Workshop de XP na Prática
- Parte 2: Story Mapping com David Hussman
- Parte 3: Minha Primeira Palestra Ágil
- Parte 4: Retrospectivas com Hugo Corbucci e Mariana Bravo
- Atual: Parte 5 - Coaching de Guerrilha com Francisco Trindade
- Final: Parte 6 - Ponha as Cartas na Parede com Paulo Caroli
Essa série documenta minha participação no Agile Brazil 2010, a primeira conferência nacional de métodos ágeis do Brasil. Do XP hands-on ao coaching de guerrilha, foi um evento transformador que moldou minha visão sobre práticas ágeis e liderança.