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Agile Brazil 2010 – Parte 4: Retrospectivas com Hugo Corbucci e Mariana Bravo

Transforme boas equipes em equipes excelentes—domine o framework de retrospectiva em 5 fases que transforma reflexão em ação, reclamações em insights e reuniões em experiências significativas de crescimento

Série: Agile Brazil 2010 | Parte 4 de 6 > Cobertura completa da primeira conferência nacional de métodos ágeis do Brasil

E acabou mais uma grande apresentação, com a cabeça cheia de ideias e um caderno lotado de anotações da sessão sobre Retrospectivas, facilitada por Hugo Corbucci e Mariana Bravo. Não foi apenas uma palestra — foi um show onde aprendemos a enxergar de forma diferente uma das práticas ágeis mais subestimadas e negligenciadas: a retrospectiva.

Retrospectiva ≠ Reunião de Status

Logo de início, Hugo e Mariana deixaram claro — e repetiram como mantra — que retrospectiva não é reunião de status. Não se trata de atualizações, métricas ou progresso no sentido tradicional. É um espaço de reflexão, aprendizado e crescimento. Um espaço seguro.

Eles ancoraram a sessão no livro Agile Retrospectives: Making Good Teams Great, de Esther Derby, Diana Larsen e Ken Schwaber. O subtítulo — “tornando times bons em times ótimos” — ficou martelando na minha cabeça o dia todo. Porque é exatamente isso que retrospectivas bem conduzidas conseguem fazer.

Mostraram como retrospectivas bem planejadas desbloqueiam colaboração, evolução contínua e até reconexão emocional com o propósito do time.

As Cinco Fases de uma Boa Retrospectiva

Passamos fase por fase do modelo do livro, com explicações, contexto e dinâmicas em grupo. A sequência foi:

  1. Preparar o Ambiente – Criar segurança psicológica e garantir presença ativa.
  2. Coletar Dados – Observar fatos e sentimentos do ciclo.
  3. Gerar Insights – Identificar padrões e causas-raiz, não apenas sintomas.
  4. Definir Ações – Transformar os aprendizados em ações concretas e pequenas.
  5. Encerrar a Retrospectiva – Refletir sobre a sessão e agradecer ao grupo.

Cada etapa teve sua própria dinâmica. Fizemos exercícios de aquecimento para preparar o ambiente. Na fase de coleta de dados, usamos linhas do tempo, gráficos de emoções e coleta livre de post-its. Isso nos fez ver não só o que aconteceu, mas como sentimos o que aconteceu.

O que mais me marcou

Na etapa de “gerar insights”, Mariana fez uma pergunta poderosa: “Por que você acha que isso continua acontecendo?” Essa simples pergunta destravou uma série de conexões que nosso grupo nunca tinha feito antes. O clima mudou. As pessoas pararam de resolver problemas e começaram a compreendê-los.

Fizemos uma atividade onde agrupamos cartões em causas, sintomas e consequências. Foi caótico, mas revelador. Aquilo que parecia só uma reclamação — “tivemos muitos bugs” — virou uma conversa sobre silos de conhecimento, falta de programação em par e código legado frágil. Causas reais. Insights reais.

Na fase de “definir ações”, Hugo nos provocou: “O que você pode se comprometer a fazer nas próximas 48 horas?” Isso mudou tudo. Paramos de pensar em revoluções e começamos a pensar em pequenas evoluções. Alguém sugeriu rodízio de facilitadores. Outro propôs 15 minutos por dia de limpeza de código. Coisas pequenas. Impacto real.

Muito Além dos Post-its

Não era sobre checklist. Hugo e Mariana trouxeram vida para o conceito de retrospectiva. Mostraram como sair do formato passivo e criar experiências relevantes. Compartilharam histórias de times que reconstruíram confiança e foco só por fazer retrospectivas de forma intencional.

Teve uma frase da Mariana que ficou comigo: “Um time que consegue conversar com honestidade é um time que pode crescer com segurança.” Pensei em várias retrospectivas que participei e que pareciam só mais um item de processo. Agora entendi o motivo: faltava contexto, criatividade, e principalmente segurança.

Praticamos também o encerramento da retrospectiva — algo que muitos ignoram. Agradecer. Pedir feedback sobre a própria sessão. Coisas simples, mas essenciais.

Retrospectiva se Desenha, Não se Executa

Uma grande lição foi entender que retrospectiva não é só mais uma reunião no calendário. É um evento que merece ser desenhado. Isso significa observar o clima, o histórico, as tensões. Escolher atividades que ajudem a revelar o que importa. Usar o tempo com cuidado. E, acima de tudo, se importar com a experiência das pessoas.

Terminamos discutindo anti-padrões: cronogramas forçados, facilitadores que monopolizam a conversa, e o clássico “ninguém fez nada do que foi combinado”. Hugo lembrou: “Mesmo que a ação falhe, a reflexão já valeu a pena.”

Mais um livro na mochila

Ao final, eles voltaram a recomendar o livro — Agile Retrospectives — e nos incentivaram a não copiar formatos, mas a ler com o time em mente. Criar com empatia. Facilitar com coragem.

Saí do workshop não só com vontade de aplicar boas retrospectivas, mas também de ajudar outros a querer participar delas. Não se trata de seguir um formato perfeito. É sobre cuidado, escuta, curiosidade e aprendizado coletivo.

Obrigado Mariana. Obrigado Hugo. Que sessão incrível.


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